Por Glacy Calassa
Para você que ama sem medida, mas também está cansada, sem forças, sem ânimo e sentindo-se sozinha.
Carta aberta aos familiares (principalmente às mães),
Queridos familiares,
Com essa carta aberta quero me dirigir a você, que muitas vezes se encontra sem esperança, que correu tanto, corre ainda e não viu resultado. Para você que ama sem medida, mas também está cansada, sem forças, sem ânimo e sentindo-se sozinha.
Primeiro, quero que sinta-se abraçada, você não está só. Existem pessoas no mundo inteiro passando por situações parecidas e pessoas se ajudando. Sinta o amor do universo, conecte-se com ele. Uns chamam essa força de Deus, outros de energia… Não importa o nome que você dá, conecte-se com ela.
Nesse clima de amor e respeito profundo que sinto por cada família, quero dar alguns conselhos. Sei do ditado: “se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia engarrafado”. Mas sinto que é o mínimo que posso fazer nesse momento.
Primeiro, não fique só! Converse com as pessoas, busque ajuda, conte sua história, ache um ombro, nem que seja para chorar. Para isso, existem vários grupos de apoio em igrejas, unidades de saúde, CAPS…. tem um ditado que diz: quando a boca cala, o corpo fala, por meio de enxaqueca, pressão alta, etc. Mas quando a boca fala, o corpo sara. Então, fale, ore, peça ajuda, diga o que está sentindo. Isso por si só já é um processo de cura.
Segundo, cuide da sua saúde e seu bem-estar. Vá ao médico se estiver sentindo-se mal. Faça caminhada. Alimente-se corretamente. Uma pessoa doente pouco pode fazer para ajudar o outro. Não dá para mergulhar tão profundo no outro e esquecer de nós mesmos.
Terceiro, olhe para seus outros familiares, além do dependente químico, eles também precisam de você. Principalmente se na sua família existirem crianças: netos, filhos, sobrinhos. Tire um tempo para brincar com eles, levá-los ao parquinho, fazer um bolo juntos e deixar que derramem farinha na mesa. Crianças sentem tudo e absorvem mais ainda. A criança não sabe pedir ajuda, ela sabe pedir atenção e que brinquem com elas. Nós, muitas vezes, surdos e atarefados não percebemos.
A negligência afetiva pode fazer perpetuar o ciclo da dependência química na família. Tenho visto muitas crianças negligenciadas em famílias que vivem o dilema da dependência química e muitos filhos de dependentes, retornarem mais tarde ao serviço com as mesmas queixas de estarem fazendo uso abusivo de drogas. Esse ciclo precisa ser quebrado. Esse é um assunto bem longo e complexo, que exige outro post, mas por hora, sugiro simplesmente que olhem com mais cuidado e atenção para as crianças.
Quarto, não desista. Busque orientações, tratamento. Mas muito cuidado com locais que oferecem cura milagrosa e fazem aumentar a dor e o sofrimento por meio de tratamentos desumanos. Busque orientações em locais e com profissionais sérios. Os CAPS AD, AA, NA, Amor exigente, pastoral da sobriedade, costumam fazer essas orientações.
Quinto, enfrente a recaída. É difícil ouvir isso, mas ela faz parte do processo. A recaída não significa que falhamos, significa que precisamos aprender ainda mais com ela.
Sexto, lembre-se que, apesar de todo o sofrimento, o amor que une a família é maior. Fale que ama, fale de seus sentimentos. Mas respeite o tempo e decisão do outro. O momento do outro é diferente do seu momento. Tente outra vez, outra e mais outra. Não desista!
Sei que às vezes você vai chegar ao tratamento desconfiada, culpada, sem saber bem o que esperar. Mas quero dizer, com absoluta certeza, que do lado de cá tem pessoas prontas para ajudar. Além de psicóloga, sou mãe e quero me conectar profundamente com você por saber que esse amor cura, esse amor de mãe, de pai, de irmãos, filhos e esposas. A ajuda não é milagrosa, ela é construída cotidianamente, com altos e baixos, com escuta, acolhimento e empatia.
Eu espero de coração que esses conselhos ajudem você a continuar a caminhada.