Ambivalência

Por Glacy Calassa

Falo sempre sobre a importância de recomeçar, de renovar as esperanças, de encontrar um sentido profundo para aquela mudança.

Quem aqui já desejou muito algo e não desejou ao mesmo tempo levanta a mão! Pois é… acho que todo mundo um dia, em maior ou menor grau, desejou e não desejou. Vou dar um exemplo, bem ingênuo, para iniciar a discussão.

A pessoa aqui é intolerante a lactose🙈🙈 Um dos meus grandes sofrimentos, pois ADORO sorvete!

Hoje, eis que surge na minha frente o McDonald’s e a foto do sorvete delicioso deles! Imediatamente me veio o desejo (quero, preciso) e o pensamento (não posso, vou passar mal). Em meio a esse jogo comigo mesma, comecei a ter o que chamamos de “pensamentos sabotadores”. 

– Poxa, estou tão cansada, trabalhei tanto, acho que mereço esse sorvetinho!
– Uma vez só não vai dar problema, será a última vez!
– Todo mundo tem um prazer na vida, porque eu não posso?
– Tenho controle, vai ser só dessa vez, ao invés de pegar um top sundae, vou de casquinha, vai fazer menos mal!

E por aí foram vários pensamentos…

Sou muito boa em argumentos para me convencer de que posso escorregar dessa vez, afinal quem nunca?

Resultado: em poucos minutos o sorvete estava em minhas mãos, mais especificamente, em meu estômago. Sim, perdi essa!

Nesse caso, poderia ter pesado os prós e contras de ingerir lactose, fazer um cartão de enfrentamento com todos os prejuízos da lactose a longo prazo, lembrar da minha nutricionista e das broncas que ela me dá, de suas explicações intermináveis sobre a inflamação do meu organismo. Poderia ter ligado para o meu marido para ele me dar uma força, ou ainda ir atrás de um sorvete sem lactose, mas não… simplesmente cedi! Juro que depois veio o arrependimento.

Não contei para o meu marido e nem para a nutricionista, não queria ser julgada! Mas agora vou fazer diferente, juro que vou. Quero ter um corpo fitness e uma saúde de ferro. Quem viver verá!

Tudo isso que aconteceu em poucos minutos chama-se ambivalência. Dei esse exemplo bobo para vocês compreenderem o quanto é difícil lidar com a ambivalência!

Não é falta de vergonha na cara, todo mundo aqui já esteve em situações parecidas, algumas vezes venceu, em outras cedeu. Mas, continuou tentando e se o desejo de vencer era maior, foi aprendendo a lidar com as situações gatilho. Afinal, se eu não tivesse passado em frente ao McDonald’s isso não teria acontecido.

A ambivalência acontece também na dependência química e dá um trabalhão. Se com sorvete é difícil, imagina com drogas.

Nesse caso, muito mais grave, precisamos aplicar técnicas mais consistentes, cercando-nos de garantias, paciência e não julgamentos. Falo sempre sobre a importância de recomeçar, de renovar as esperanças, de encontrar um sentido profundo para aquela mudança. No final, dá certo! Se cedi uma vez, venci outras vinte vezes!

No caso da dependência química, não adianta somente conselho. Em muitos casos, será necessário intervenções de vários profissionais, um plano terapêutico bem consistente e muito apoio!

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