Por Glacy Calassa
Gostei tanto desse livro que vou fazer dois posts sobre ele. O livro é baseado na história real do autor, David Sheff, que é pai de Nic. Nic Sheff, é um garoto educado, bonito, que foi aceito em diversas Universidades. Infelizmente Nic muda o curso de sua história e de sua família ao se envolver no mundo das drogas.
Prometi que iria dar minha opinião sobre esse livro, mas atenção pessoal, o texto contém spoiler!
Gostei tanto desse livro que vou fazer dois posts sobre ele. Esta é a primeira parte.
O livro é baseado na história real do autor, David Sheff, que é pai de Nic. David é jornalista, escritor e vive com a segunda esposa e os filhos. Seu primogênito, do primeiro casamento, Nic Sheff, é um garoto educado, bonito, que foi aceito em diversas Universidades. Entretanto, começa a utilizar múltiplas drogas, entre elas a metanfetamina, o que muda drasticamente sua vida e de sua família.
O autor, com maestria, discorre sobre sua tentativa de entender a Dependência Química e, ao mesmo tempo, dar suporte a Nic. Relata a infância do filho e consegue fazer o leitor visualizar perfeitamente o garotinho carinhoso e nos afeiçoar a ele.
Já no primeiro capítulo o pai de Nic traz o relato de uma pessoa, perplexa com o fato de seu filho ser Dependente Químico: “Mas sua família NÃO parece anormal”. O autor rebate dizendo: “Somos anormais – tão anormais quanto qualquer família que conheço”.
Nesse trecho me vem à memória a pergunta que ouço há nove anos, feita por tantas famílias: “Porque conosco?” “O que fizemos de errado?” “Somos diferentes de outras famílias?”
Para essas dolorosas perguntas não existem respostas precisas e objetivas. São inúmeros fatores: genéticos, familiares, pessoais e ambientais. Eu mesma, durante a leitura do livro, comecei tentar identificar os erros da família. Esse é um posicionamento comum, difícil de sair dele. Inclusive, identifiquei várias coisas que poderiam ter desencadeado o uso abusivo, como: conflito dos pais, separação, o início de uso precoce, o Transtorno Psicológico e várias outras coisas que poderiam, ou não, ter levado e mantido o garoto no uso. “Poderiam ou não”, pois, várias famílias também apresentam problemas parecidos, umas desenvolvem dependência química, outras não. Ou seja, a dependência química pode aparecer em qualquer família, com qualquer condição socioeconômica, educacional e com diferentes configurações familiares. Claro que existem fatores protetores e de risco, mas como o autor mesmo diz, “todas as famílias têm seu nível de anormalidade”.
Após isso, parei de tentar identificar e passei a ter empatia pelo autor. Acredito que esse precisa ser o posicionamento: não julgamento e acolhimento. Afinal, como o autor repete várias vezes durante o livro: “Não tenho culpa, não tenho controle e não posso curar”.
Esse é um mantra comum repetido em salas de terapias de grupo voltadas para familiares de dependentes químicos. Muitos podem se perguntar: “Se não tenho culpa, não tenho controle e não posso curar, o que posso fazer então? Qual é o meu papel?”
Durante toda a história do Querido Menino o autor vai demonstrando o papel da família: apoio, apoio, apoio, cuidar de si e dos outros membros, não adoecer junto, por mais que isso seja difícil, se tratar, e novamente – apoio, poio, apoio. Difícil entender isso, mas ao longo da história de David vai se tornando claro.
Esse é um pequeno exemplo de como a dependência química exige uma mudança de todos os envolvidos. Por isso, o trabalho deve se estender para a família e não concentrar-se somente no usuário.
O autor fala sobre seu processo de co-dependência, no qual se tornou dependente da dependência do filho. No livro percebemos a importância do autocuidado. Fazer o possível sempre, mas substituir o controle pelo suporte.
Relata a incredibilidade quando descobre que o filho estava abusando de drogas. Para esse pai não tinha como isso estar acontecendo com seu filho que era inteligente, bonito, esperto, o relacionamento entre eles era próximo e confiável. Eram melhores amigos. Para ele era inconcebível o filho fazer algo que ele não soubesse, que não aprovasse.
Esse pequeno trecho me trouxe à memória inúmeros relatos de mães que tiveram a mesma incredibilidade ao descobrir que os filhos estavam usando drogas. “Era o filho que mais confiava”. “Ele era diferente dos outros: melhor, mais amigo, mais sensível, mais próximo”. Quando isso acontece, parece que a dor é ainda mais intensa. A culpa aumenta. “Como não percebi, como demorei tanto para perceber?” “Onde errei?”
O autor discorre sobre como essa confiança turvou sua visão dos fatos. No início acreditava quando o garoto minimizava os fatos e dizia estar tudo sob controle. David queria acreditar no filho responsável e amigo que sempre teve. Contudo, quando percebeu que não estava sob controle, já tinha passado a fase de curiosidade, experimentação e uso eventual. O garoto já estava com uma dependência instalada.
Assim, David vai dando várias dicas aos pais de erros que ele não gostaria de ter cometido. Aos profissionais, ele vai mostrando a dor da família e a importância de um apoio verdadeiro.
A história é bem empolgante. Acredito também que os mais emotivos irão se emocionar muito. Senti-me conectada com o pai de Nic. Em vários momentos tive vontade de abraçá-lo e dizer que tudo ia ficar bem. É uma obra que recomendo, pelo fato do autor falar sobre esse tema, tão delicado, com maestria e sem romantização ou julgamento. Inúmeros livros sobre o assunto que comecei a ler, parei na primeira ou segunda página. Não é o caso desse. Continuei empolgada e conectada à história do início ao fim.
O livro traz um drama cheio de reflexões. Um final sem milagres, mas muito marcante! Recomendo para familiares e profissionais da área. Essa é a dica de livro de hoje, espero que gostem! Quem comprar conta para gente o que achou e se o livro impactou sua forma de ver a dependência química.
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Fiquem ligados, pois na parte II vamos falar sobre pressão social e tratamento.