Olá pessoal, esse é o segundo post sobre o livro Querido Menino. Atenção, o texto contém spoiler! 

Durante o livro, o autor fala de como Nic reclamava da pressão social, daquela velha frase “Todo mundo usa!”. Fala sobre como sentimentos de insegurança e curiosidade presentes na adolescência acabam facilitando, em vários aspectos, o uso de drogas.

Essa parte me toca muito. Sou uma eterna preocupada com os adolescentes, com a cultura que supervaloriza o uso de álcool, com festas voltadas para o público teen regadas a álcool e pais que aceitam isso de forma natural. Afinal, “Todo mundo usa!”. Além do álcool, essa normalidade tem se estendido para o uso da maconha. Tudo isso em um período em que o indivíduo está vulnerável, em que o cérebro está em desenvolvimento. Sabe-se atualmente que o início precoce do uso de substâncias psicoativas facilita o desenvolvimento de dependência química.

Outro trecho que nos coloca em profunda reflexão, é quase no final do livro, quando o autor fala sobre o “fundo do poço” que muitos dependentes químicos chegam. Relata ainda que muitos pais desejam essa catástrofe, para que seu ente amado acorde desse pesadelo e tome uma atitude que o faça mudar. Ele desejou uma catástrofe para Nic. Uma catástrofe contida que o fizesse sofrer e render-se. Contudo, que fosse suave o suficiente para o fazer recuperar e salvar-se. Desejava um “triz” para Nic, um triz que o tirasse dessa vida, mas não forte o suficiente para matá-lo ou deixar sequelas.

Ao final do livro afirma o quanto as terapias de grupo ajudaram Nic e a família, o quanto as inúmeras reabilitações foram importantes para a transformação de todos. É interessante, pois o autor tem uma visão de quem já passou pelo fato. Não fala em cura milagrosa, mas em um processo de amadurecimento e crescimento de todos. No decorrer do livro, vamos acompanhando o pai de Nic, tendo esperança e perdendo-a inúmeras vezes até perceber que o tratamento da dependência química é um PROCESSO, que vai e vem, como em uma espiral. Às vezes desce um pouco para tornar a subir.

Ele faz uma brilhante crítica a tratamentos sem bases científicas, que utilizam da humilhação e coerção. Ao final da obra fala o quanto foi importante a avaliação psicológica e o diagnóstico de transtornos mentais que coexistiam com a dependência química. Sem esse diagnóstico correto seria difícil Nic conseguir sobriedade por muito tempo. Reforça inúmeras vezes a crítica a serviços e profissionais não especializados em dependência química. Serviços nos quais muitas vezes a única credencial dos gestores é o fato de serem ex-dependentes, como se isso fosse suficiente para tratar uma doença tão séria e complexa. Sugere que as famílias busquem profissionais e instituições sérias, em que as intervenções ocorram com embasamento científico.

Tenho falado muito isso em minhas postagens, o risco de pseudos tratamentos. Que utilizam mais o cárcere privado, a coerção e a humilhação do que outra coisa. Além de serviços que são contra medicações e atuam sem nenhuma evidência científica.

Por fim, posso dizer que esse é um livro empolgante, que nos toca a alma. Senti-me conectada com o pai de Nic. Em vários momentos tive vontade de abraçá-lo e dizer que tudo ia ficar bem. É uma obra que recomendo, pelo fato de o autor falar sobre esse tema, tão delicado, com maestria e sem nenhum tipo de romantização ou julgamento. Inúmeros livros sobre o assunto que comecei a ler, parei na primeira ou segunda página. Não é o caso desse. Continuei empolgada e conectada à história do início ao fim

O livro traz um drama cheio de reflexões, mas sem exageros. Um final sem milagres, mas muito marcante! Recomendo para familiares e profissionais da área. 

A obra também foi adaptada para o cinema. O filme é bom, mas nem preciso dizer que o livro é muuuito melhor!

Essa é a dica de livro de hoje, espero que gostem do livro e quem comprar conta pra gente o que achou.

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