Sei que você, que está na área da dependência química, sente que tem grandes desafios a serem enfrentados, e é verdade, tem mesmo. Em muitos momentos você terá medo de perder seu paciente, de não conseguir resultados, frustração pelo fato deles não aparecerem na velocidade que gostaria, incerteza em relação até onde vai chegar, raiva porque o indivíduo parece não fazer a parte dele…

Contudo, esses sentimentos, ao invés de te paralisar, devem incentivar você a estudar, fazer cursos, discutir casos, estabelecer redes profissionais e continuar caminhando em busca de ser um profissional de excelência. Nesse caminho deve existir também uma busca e transformação pessoal. Desenvolver habilidades pessoais e sociais que o ajudarão a lidar com situações difíceis.

É comum que o trabalho mexa conosco de forma pessoal, que questionemos nossa própria vida e valores, e que bom que é assim! Significa que somos seres humanos dotados de sentimentos!

Trabalhar com dependência química é ser empático, cuidadoso, paciente e resiliente. Cuidar implica estar ali, acolher, olhar o outro sem julgamentos, sem preconceitos, sem querer imputar no outro minha visão de mundo e minhas crenças. É atendê-lo, com profunda empatia e cuidado, sem misturar minha história com a dele. É estar disponível para o encontro verdadeiro, para trabalhar a relação terapêutica. O paciente por vezes chegará recaído, com muitos conflitos familiares, não vai fazer nada que é acordado na terapia… e tudo bem, vamos tentar novamente, de uma forma diferente, cada vez que for preciso.

Importante salientar que nesse movimento de cuidar e estar constantemente estudando, é preciso ainda cuidar-se. Precisa também de rede de apoio, de lazer, de terapia, senão corre-se o risco de entrar tão profundamente nas histórias que atende, no serviço que atua, que se adoece junto.

Assim, para encerrar, meu conselho é: estude muito, busque redes, tenha lazer, cuide de você para que fique bem e possa cuidar dos outros.