Nossa, o tempo passa tão rápido! Era para ter publicado esse texto antes de acabar setembro, mas não consegui. De qualquer forma, mesmo atrasada, quero contar para vocês a respeito de uma visita que fiz à Unidade Recomeço Helvétia, localizada em plena Cracolândia, no Centro de São Paulo.

Quem me apresentou a unidade foi um dos coordenadores do MBA de Dependência Química, o @douglasresendelima.

Marquei de encontrar com ele em um local estratégico, antes da Cracolândia. Fui avisada que UBER não entra na Cracolândia, por isso não me deixariam na porta da unidade Recomeço Helvétia. Teríamos que terminar o trajeto a pé. Passaríamos no meio do fluxo (nome dado ao local em que os usuários de drogas ficam aglomerados).

A região é bem policiada, mas os policiais não entram no fluxo, só quando é necessário fazer alguma ação. Ficam próximos para garantir que o fluxo permaneça somente naquele lugar. Olhando de longe, parece uma feira movimentada. De perto, percebemos muitas pessoas andando, outras deitadas, outras preparando e usando seu cachimbo, algumas negociando drogas.

Ao chegar, informamos a um policial que iríamos na Helvétia, por isso, atravessaríamos o fluxo. Ele nos orientou a não fazer isso, pois tinham policiais preparados com bombas de gás. Iria ter uma ação no local e se houvesse resistência, a polícia estaria preparada para agir. Se estivéssemos no meio do fluxo seríamos atingidos. Nessa hora gelei! Saí de Brasília para essa visita e agora corria o risco de não acontecer… Olhei para o Dr. Douglas e ele falou: não se preocupe, é seguro. Vamos atravessar!

Não sei se era a resposta que queria, gelei mais. Na minha cabeça passou a imagem de uma ação policial e eu no meio. Me vi respirando gás lacrimogêneo no meio da confusão… Simplesmente afastei esses pensamentos, respirei fundo e disse: – vamos.

Já tinha sido orientada: nada de bolsas, sandálias abertas, brincos, anéis, nem mesmo aliança. Celular e fotos, nem pensar (as fotos da postagem são de @paulors.mntu). O que as pessoas que estão naquele local mais detestam são fotos e isso poderia trazer problemas. Segui todas as orientações e fomos rápido, tentando desviar das pessoas, pular lixos espalhados na rua e não passar mal com o cheiro forte de esgoto.

Finalmente chegamos. Ao entrar no prédio do Helvétia chama atenção a organização e limpeza. São 10 andares, que ficam desde a convivência, de baixa exigência, com atuação em redução de danos, até a moradia assistida, com a meta de abstinência total e reinserção social.

O Centro de Convivência atua na linha de cuidados pessoais, com banho (em média 2.500 banhos por mês!), barbearia, academia (sim, tem uma academia!) e grupos terapêuticos. Chamou-me atenção também a enfermaria de desintoxicação e a moradia assistida. Além de organizado, haviam muitos indicadores de qualidade. Outro ponto a ser ressaltado que não passou despercebido, foi a capacitação dos funcionários. Todas as pessoas muito bem capacitadas e entendendo perfeitamente o fluxo de atendimento.

O psicólogo Rodolfo Yamauchi nos recebeu em sua sala de pesquisa e explicou detalhes sobre o programa de manejo de contingência que estão fazendo. Estava ansiosa para conversar com ele, pois já sabia dos resultados de sua pesquisa e queria conhecer de perto. Cada fala dele sobre suas experiências exitosas iam me abrindo uma gama de possibilidades e eu ia pensando no meu trabalho desenvolvido em Brasília.

Saí de lá com a sensação de que é possível, de que existem muitas pessoas comprometidas envolvidas nessa causa, não estamos sozinhos. Apesar de não ser simples, é possível tratar a dependência química com métodos e técnicas eficazes e eficientes.

Obrigada @douglasresendelima pela prontidão em atender meu pedido, por me receber tão bem na Unidade Helvétia e por não medir esforços para compartilhar conhecimento. Existe um médico-cirurgião muito querido, o Dario, que falou um dia: “Quando ajudamos alguém a ajudar outras pessoas, o universo inteiro conspira a seu favor.” Torço para que todo o Universo te ajude a multiplicar ainda mais seu conhecimento. Gratidão.