Cuidado, a recaída pode acontecer antes do primeiro gole!

Por Glacy Calassa

O recado de hoje é esse: o autoconhecimento e a capacidade de pedir ajuda é parte importante da recuperação.

Hoje vou contar uma história interessante, que serve para avaliar postura frente ao perigo de recaída.

Um rapaz, que vou dar o nome fictício de Breno, estava muito bem, abstinente a um tempo e conseguindo alcançar todas as suas metas estabelecidas. Contudo, em uma sessão inicia a seguinte discussão:

– Dra. Glacy, estou aqui hoje porque estou recaindo!
– Você usou drogas?
– Não, pior que não! Contudo, sinto que vou usar. É questão de tempo. Estou tendo os mesmos comportamentos de antes… Tudo igual, só não usei drogas… Ainda. Precisamos acionar algum plano de emergência.

Quando ouvi essa frase fiquei muito feliz, não pelo fato de ele estar recaindo (claro que não), mas pelo autoconhecimento e pedido antecipado de ajuda. É um grande passo, conhecer e reconhecer seu processo de recuperação e recaída. Conhecer suas emoções e seus pensamentos sabotadores.

Essa reflexão vem somente após muita análise de recaídas, de avaliar o que deu errado, onde ela iniciou. Depois de analisar os processos emocionais, a rede de apoio e as estratégias para lidar com as crises.

Costumo dizer que ninguém recai no primeiro gole, na primeira ‘carreira’, no primeiro cigarro. Recai-se muito antes disso. Às vezes semanas, ou meses antes. Recai-se primeiro no pensamento, quando começo a me autorizar. Pensamentos como:

“ — Acredito que agora terei controle.
— Eu poderia beber só um gole.
— “Dá nada não”, me sentiria melhor se usasse, vai ser só uma despedida.”

Esses podem ser pensamentos sabotadores, que são automáticos, disfuncionais e aumentam a ambivalência em relação ao uso de drogas. Para lidar com eles, precisamos nos aprofundar no processo de autoconhecimento, ou seja, conhecer os pensamentos e emoções e o que elas desencadeiam. Após conhecer, nomear, identificar, consegue-se modificar. Esse conhecimento deve ainda vir acompanhado de estratégias de solução de problemas. A estratégia do meu paciente de pedir ajuda, de antecipar uma recaída, o livrou da recaída em si.

Fizemos um “plano de emergência”. Reforçamos habilidades que ele já tem. Discutimos sobre situações de risco, acionamos sua rede de apoio e estamos acompanhando, todos mais conscientes, próximos e com o mesmo objetivo. Tem tudo para dar certo!

Alguns devem estar se perguntando, e se mesmo assim a recaída ocorrer?
Nesse caso, fazemos outra análise do que deu errado e do que poderíamos ter feito diferente. Recaída não é o fim do mundo, é mais uma oportunidade de aprendizado. Para nós qualquer evolução deve ser valorizada e a do autoconhecimento deve ser muito comemorada.

Então, o recado de hoje é esse: o autoconhecimento e a capacidade de pedir ajuda é parte importante da recuperação.

Glacy Calassa
CRP 01/16290

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