Como ter sucesso no tratamento de adolescentes que fazem uso abusivo de álcool, maconha ou outras drogas?

Por Glacy Calassa

Hoje é uma realidade para quem trabalha em servições de álcool e outras drogas, receber enorme quantidade de adolescentes, que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas. Não é só isso, essa é uma clientela que muitas vezes tem vários dos seus direitos violados e não respondem bem ao modelo tradicional de tratamento…

Muitas pessoas me questionam o que fazer com os adolescentes. Na prática, não é simples engajar esse público no plano terapêutico. Na maioria das vezes eles vêm para o tratamento contra sua própria vontade, encaminhados pela justiça, conselho tutelar ou mesmo obrigados pela família.

Nesse momento gosto de citar um dos princípios do NIDA (National Institute on Drug Abuse) que afirma que o tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz. No caso de adolescente, se aplica ainda mais (lembrando que não estou falando de internação).

Mesmo o adolescente vindo ao tratamento contra sua vontade, é possível estabelecer um bom vínculo terapêutico e conseguir resultados satisfatórios. Para isso é necessário oferecer um tratamento específico para essa fase da vida. Não vale oferecer o mesmo tratamento que é dispensado aos adultos e pensar que vai dar certo. Quando não funciona, ainda culpar o adolescente pela não adesão.

É necessário pensar na articulação da rede para atendimento e atenção integral. É simplesmente impossível uma única instituição ou um único profissional atender o adolescente e ter bons resultados.
Adolescência é movimento, dinamismo, transformação e precisaremos nos atentar para essas características na hora de montar o plano terapêutico singular. A escola, o esporte a cultura, o lazer, a espiritualidade, a família, o território, devem ser pensados.

Ouvi uma fala do Promotor de Justiça Lélio Ferraz de Siqueira Neto, de São Paulo, que gostei muito:
“os 50 minutos do setting terapêutico, não substituem às 23 horas da comunidade, então é importantíssimo pensar na rede que o indivíduo está inserido, sua rotina, seus vínculos sociais (…) Quando se trabalha com um sujeito frágil e com baixa capacidade de resposta é necessário ir além do individual e familiar.”

É exatamente isso! Pensamento global e ação territorial. Parar de pensar somente nas dificuldades (que são inúmeras), na intervenção meramente técnica e focar nas possibilidades da equipe, do território e do indivíduo alvo.

Quem não é da área e não entende dependência química, principalmente na adolescência, quer uma “cura” rápida e muitas vezes acaba responsabilizando o próprio paciente quando isso não ocorre. Frases como: tem que internar, tem que prender, tem que dar uma surra no moleque, são muito ouvidas nessa área (infelizmente). Ainda nas palavras do promotor Lélio Neto “Em muitos casos, nem mesmo o conselho tutelar, o delegado e a justiça tem noção do que é um tratamento para dependência química”.

Então, a primeira dica desse post é: trabalhem em rede intersetorial. Não importa se o atendimento é no CAPS AD ou no consultório, a intervenção ampliada é fundamental.

Glacy Calassa
CRP 01/16290

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