Profissional Preparado

Por Glacy Calassa

Uma profissional muito comprometida e interessada, que supervisiono, me perguntou qual caminho deveria seguir para oferecer um serviço de excelência no tratamento da dependência química.

Essa pergunta fez-me refletir: seria especialização, mestrado, estágio em CAPS AD, clínicas, supervisão?

Acredito que não há resposta simples para essa pergunta, mas desejo arriscar uma. Penso que existe uma preparação que antecede os cursos que fazemos, nos acompanha durante toda nossa formação e não tem fim, deve continuar por toda vida.

Arriscaria dizer que primeiro devemos revisar quem somos: nossos preconceitos, nossas crenças sobre drogas, família, casamento, felicidade, nossa necessidade de controle, de estarmos certos e de apontarmos o caminho que deve ser seguido. Muitas vezes, os profissionais de saúde têm disso, de forma bem intencionada, acreditam que sabem o caminho que deve ser seguido por todos. A dependência química nos faz lidar com essas questões. Muitos se sentem frustrados e por vezes com raiva dos pacientes. Quando vejo isso acontecer fico me questionando: “em que o paciente mexe com você internamente quando não faz o que foi combinado na sessão? Quando não realiza as tarefas da semana? Quando falta e não avisa? Quando quebra todas as regras estabelecidas pelo serviço?”

Muitas vezes temos problemas com isso e a dependência química escancara essas dificuldades pessoais. É preciso se entender, saber lidar com a frustração, perceber que quando o paciente faltou, recaiu, chegou sob efeito de substâncias na sessão, isso tem mais haver com ele do que com você. Precisamos de uma preparação pessoal, que pode vir por meio de terapia, leituras, meditações… Enfim, cada um encontra um meio para iniciar esse processo, que deve continuar por toda vida.

É preciso lembrar que nossas emoções, nossas feridas, quem somos internamente influencia nossa atuação profissional. Precisamos de muita humildade para entender que não estamos prontos, não daremos conta sozinhos, precisamos de equipe interdisciplinar e intersetorial. Não somos perfeitos e talvez nunca seremos. Por isso, o trabalho de aperfeiçoamento é constante. Ele tem início, mas provavelmente não terá fim. É uma preparação interior.

Assim fazendo, estaremos em uma caminhada de desenvolvimento interior que terá impacto em nossas ações, em nossos pacientes, em suas famílias e na sociedade. Não há outra forma de mudar o mundo a não ser iniciando por nós.

Após entender isso, aí sim podemos procurar os cursos, MBA’s, Mestrados e Doutorados, a supervisão (importantíssima), os estágios e tudo mais.

Glacy Calassa
CRP 01/16290

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